Rogelio Groba (1930-2022)

ROGELIO GROBA nasceu em Guláns, concelho de Ponteareas, aqui bem perto de Valença do Minho, no dia 16 de Janeiro de 1930. Tendo iniciado os seus estudos musicais aos onze anos, na Banda da sua terra natal, onde tocava Flautim, logo se fez notar entre os seus pares apesar da sua tenra idade; aos dezassete anos deslocou-se para Vigo a fim de prosseguir os seus estudos que continuaria depois no Real Conservatório de Música de Madrid e, mais tarde, na Suíça onde esteve sete anos, dedicado a uma intensa actividade musical. Em 1968 fixou-se na Galiza para assumir a direcção artística da Banda / Orquestra Municipal da Corunha e mais tarde foi fundador da Orquestra Sinfónica da Galiza, sendo seu “compositor associado”. Nesse âmbito, escreveu uma considerável quantidade de obras para Orquestra. Foi professor de Harmonia, Contraponto e Fuga, e Composição no Conservatório Superior de Música da Corunha, de que também foi Director durante vinte anos, tendo dinamizado a formação musical galega com a criação de escolas e conservatórios municipais. Uma carreira atribulada, mas que conseguiu dar à música galega aquela dimensão profissional de que carecia. É autor de vários ensaios e livros, e desde 1992, dedicou-se exclusivamente à composição musical, tendo produzido uma obra que foi reconhecida por vários prémios e distinções. Em 2002 foi criada a Fundação “Rogelio Groba”, entidade de interesse cultural com a finalidade de catalogar e proteger o legado musical do compositor dirigida por sua esposa Maria Otero, e pelos filhos, Dolores, o violinista Rogelio e a violoncelista Clara.
Tive oportunidade de conhecer bastante bem o maestro bem como seu irmão Miguel, maestro da Orquestra de Câmara de Madrid, com quem me encontrei por várias vezes em Vigo. Na minha actividade de direcção coral, iniciada em Viana do Castelo em 1980, e pouco depois na relação estreita que estabeleci com a música e os músicos galegos, conheci bastante da sua obra coral, quando ele estava ainda no auge da sua produção musical. Era uma personalidade particularmente simpática com cuja música eu me identificava pelo sem pendor modal e com uma escrita um tanto original. Era dotado de uma veia melódica notável, numa linguagem muito clara que aliava uma grande simplicidade de processos a uma profundidade expressiva e até divertida que o tornavam bastante popular. A minha relação pessoal com Rogelio Groba teve várias facetas e momentos: o primeiro foi quando, integrando o Coro “Ars Musicae” de Pontevedra, cantei sob a direcção dele as suas Cantigas de Mar in modo antico ao mesmo tempo que escutei a sua obra que mais aprecio, a Suite “Intres Boleses” , em estilo barroco, executada no mesmo concerto realizado em Pontevedra a 13 de Dezembro de 1987. Um segundo momento aconteceu num Concurso de Composição em que ele era o Presidente do Júri e eu era um dos concorrentes, onde recebi dois Segundos Prémios; a decisão desse Júri foi porém bastante contestada, no Concerto de apresentação das obras premiadas e da divulgação da classificação final, pois era opinião geral que eu deveria ter recebido o Primeiro Prémio na modalidade de originais; creio que não mo atribuíram porque eu o tinha recebido já na edição anterior do Concurso… Um terceiro momento, quando um amigo comum lhe mostrou a minha partitura Follas Rosalianas, ciclo de canções para Canto e Piano. Teve, segundo me foi dito, uma reação de grande apreço, notando de imediato a clara ligação da sua linguagem ao Canto Gregoriano que, efectivamente inspirava e até aparecia citado num ou outro momento na partitura. Foi então que me ofereceu vários CDs com as suas obras já editadas.
De há muitos anos lhe perdera o rasto, até porque a minha ligação à Galiza se foi desvanecendo com o tempo, suspeitando mesmo que ele já não estivesse no número dos vivos até porque deixou de aparecer em público nos úlitmos anos. Acabo de saber que faleceu no último dia do ano de 2022, com a idade de 92 anos. Fica a memória de alguém que sempre senti próximo, até na forma de escrever música, que admirei e me despertou agora a curiosidade em conhecer as suas últimas obras. Em poucas linhas se pode apreciar a lista enorme da sua produção musical (Fonte: Wikipedia):
14 Cantatas: Cantata das cantigas, Un pobo sen destino, Nova Galicia, In Memoriam Manuel de Falla, Mandatum, Cantigas de Mar, Anxos de Compostela, Cantata de Maio, Gran Cantata Xacobea y Corpus en Ponteareas, As rúas do vento ceibe, Rosalía na Catedral, Galicia está ollando ao mar, Na cidade).
16 Sinfonias:Lúdica, Bucólica, Épica, Máxica, Christmas Symphony, Sinfonía para cordas, Trasno, Carpe festum, Kalaikia (Oito ciclos sinfónicos etnográficas), O espello sinfónico.Colección (A Voz dos tempos, A heroína, Qui sine peccato, O Guerreiro de Soutomaior, Visións de Rosalía, Galicia soñada, Voces da Terra.
19 Concertos: quatro para Orquestra Sinfónica: Concerto lorquiano, Concerto ostinato, Lembranzas y Ophiusa; sete para Solista e Orquestra Sinfónica: Coexistencias, Concerto gulansés, Concerto Klásiko, Concerto no Lameiro, Confidencias, Fauno y Res, non verba; oito para Solista e Cordas: Nemet, Arcaico en Re, Añoranzas, Concerto en Arcos, Epicúreo, Malleus animatus, Oito microconcertos y Tres soidades
5 Óperas: María Pita, Divinas Palabras, Camiños de Rosalía, Floralba y Pedro Madruga) e uma Ópera infantil El gato con botas.
2 Bailados: Metaphoras y Galicia.Danzas meigas.
Misa Galega (Corpus Christi).
Misa de Requiem (Réquiem galego).