José Sousa Marques (1933-2023)

Acabo de receber a notícia do falecimento do P. José de Sousa Marques. Quem foi e que significou para mim esta personalidade controversa de Sacerdote, Professor e Compositor, já tive oportunidade de escrever um apontamento que se pode encontrar neste mesmo espaço, na revisitação que fiz a alguns dos seus cânticos. Fica aqui, em jeito de singela homenagem, a memória de um homem que passou um pouco ao lado do mundo em que vivia e de onde se retira agora aos noventa anos. Que Deus o aceite e acolha no Coro dos Anjos e Santos.

P. José Sousa Marques e Jorge Alves Barbosa; Guimarães 1973

A sua actividade sacerdotal ficou especialmente ligada à música tendo sido professor de Solfejo e Piano nos Seminários, desenvolvendo ao mesmo tempo uma actividade no campo da música litúrgica quer em pequenos trabalhos de composição quer na orientação de grupos corais, ao mesmo tempo que exercia a docência de Formação Musical na Escola André Soares, em Braga. Com a fundação do Conservatório de Música de Braga, foi aí um dos primeiros alunos, tendo realizado os cursos gerais de Canto, com Natália Clara e de Composição com Luís Filipe Pires, vindo a concluir com este mesmo docente o Curso Superior de Composição no Conservatório do Porto, onde frequentou também a classe de Piano de Berta Alves de Sousa.

A sua actividade musical orientou-se prioritariamente para o ensino oficial da música, pelo que procurou frequentar os cursos de aperfeiçoamento em Pedagogia Musical no âmbito das iniciativas orientadas no nosso país pelos conhecidos pedagogos Edgar Willems, Pierre van Hauwe e Jos Wuytack, muito frequentadas então, vindo a exercer, em diversos meios, uma actividade de orientação pedagógica no campo da Educação Musical. No contexto dessa actividade docente surgiram alguns trabalhos como dois pequenos cadernos com canções infantis, para duas vozes e Piano, que publicou sob o título de O Orfeão da Escola. Leccionou Composição no Conservatório de Guimarães e acompanhou a prática pedagógica decorrente dos cursos CIFOP da Universidade do Minho, destinados à habilitação profissional e académica dos Professores de Formação Musical. Dedicou-se também à critica musical, escrevendo nomeadamente para os Jornais “Diário do Minho” e “Notícias de Famalicão”.  Foi professor de Solfejo, Piano e Director do Coro do Seminário de Santiago, onde desenvolveu muita da sua actividade docente, e pôde ensaiar algumas das suas produções no campo da composição musical, nomeadamente de música profana para Coro Masculino.

Foi um dos fundadores da Nova Revista de Música Sacra, nela colaborando ao longo do tempo, desde o primeiro número, tendo aí publicado cerca de cinquenta cânticos litúrgicos. Colaborou também na efémera Revista Música Nova, divulgando ainda algum do repertório que ia escrevendo, em pequenos opúsculos de edição pessoal. No âmbito das realizações da Comissão Bracarense de Música Sacra, nomeadamente nos anos setenta, fez parte de uma equipa que se dedicou à formação de organistas paroquiais, uma actividade particularmente fecunda que haveria de ser coroada com a edição do seu Método de Harmónio, uma obra marcante para a época e que ajudou muita gente na iniciação à prática de teclado para serviço litúrgico. Aí se procurava aliar a iniciação à técnica pianística (nomeadamente a partir das transcrição de elementos do Primeiro Mestre do Piano de Carl Czerny e sobretudo de Le Pianiste Virtuose de Charles Hannon), a uma execução mais adequada ao Harmónio (a partir nomeadamente dos elementos recolhidos dos Métodos de Harmónio de Lopez Almagro e Ettore Pozzoli), progredindo pela abordagem de algum repertório de sabor clássico, proveniente da então muito divulgada obra de Louis Raffy, Organistes célèbres et grands maitres classiques; a este repertório acrescentou a transcrição e harmonização de alguns cânticos litúrgicos então em voga, de modo a criar nos seus alunos uma ligação natural à prática litúrgica, ao mesmo tempo que iam vencendo alguns dos desafios decorrentes da abordagem de tonalidades mais exigentes. Mais tarde, numa terceira edição, haveria de ampliar um pouco essa obra dando-lhe o título de Método de Órgão, embora não apresente grandes elementos ou orientações que apontem para uma verdadeira iniciação à técnica organística. A produção musical do P. José de Sousa Marques mais conhecida centra-se no material que foi publicando nas plataformas antes mencionadas, caracterizando-se por uma escrita particularmente simples e nem sempre bem conseguida, tendo ainda escrito trabalhos de âmbito um pouco mais exigente, nomeadamente em arranjos corais para o Coro do Seminário de Santiago onde trabalhou durante anos até esta instituição ter sido fechada em 1975, sendo os respectivos alunos distribuídos pelos outros dois seminários.