O Órgão na Liturgia Cristã
PERSPECTIVA HISTÓRICA, LITÚRGICA E ESTÉTICA, ACERCA DO PAPEL DO ÓRGÃO NA LITURGIA
Todo o mistério do órgão está encerrado nos pequenos registos que o génio humano roubou a essa infinita série de harmónicos que a mãe natureza dá a cada nota. Está carregado de tais mistérios que, ao mesmo tempo, apaixona e incomoda a muita gente: organeiros e organistas, arquitectos e engenheiros, músicos e musicólogos, teólogos e liturgistas… trata-se de um instrumento muito diferente dos outros e muito mais ainda da voz humana. O órgão nasce do vento e das rochas, isento da possibilidade de modulação e expressividade que garantem os instrumentos de corda e mesmo os de sopro accionados directamente pelo homem; o órgão garante uma estabilidade e segurança que se unem e se transformam numa dimensão de majestade que o tornam único. Nas nossas igrejas, ele representa a voz desencarnada de Deus: majestade, temor, reverência, clareza de sons, qualidade do conjunto, são características que hoje definem um enquadramento verdadeiramente eclesial do órgão, mesmo que o possamos executar e ouvir numa sala de concerto. A forma como a maior parte dos compositores, mesmo os mais modernos, aborda a composição organística e o respeito que a respectiva literatura impõe são reveladores dessa dignidade de um instrumento que une a mente humana à mente do Criador.